O uso seguro e saudável das tecnologias pelas crianças e pelos adolescentes foi o tema do encontro do programa Cuidar é Básico direcionado para as famílias e os educadores do 3º ao 5º ano do Ensino Fundamental – Anos Iniciais das unidades Três Figueiras e Correia Lima. O evento ocorreu na noite de terça-feira, 4 de julho, no Auditório 1 da unidade Três Figueiras.
O encontro foi conduzido pela equipe do Serviço de Orientação Educacional do Colégio Farroupilha e teve como convidados Daniel Spritzer, Psiquiatra da Infância e Adolescência e coordenador do Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas (GEAT), e Luciano Escobar, Especialista em Direito Educacional e Advogado do Colégio Farroupilha.
É possível proibir?
Daniel Spritzer abriu o encontro reforçando a importância de debater este tema. “É essencial participar deste assunto, ainda mais quando trazido pela escola, pois reforça essa parceria entre escola e família nos cuidados. As tecnologias estão presentes na vida das crianças e dos adolescentes, inclusive fazem parte do desenvolvimento normal. Não podemos simplesmente não deixar que eles tenham esse acesso, mas devem entender essas tecnologias e, a partir disso, criar estratégias”, analisou.
O especialista explicou sobre o momento em que o uso da tecnologia pode virar um problema sério de saúde, com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS). “É chamado de Padrão de uso persistente e recorrente quando a criança ou adolescente tem um uso acima de doze meses e apresenta alguns sintomas, que podem ser verificados com um diagnóstico profissional. Um dos sintomas é a perda de controle sobre o jogo, a falta de prioridade para outras atividades e os prejuízos, que podem ser sociais, de saúde, familiares e escolares”, ressaltou.
Entretanto, Spritzer reforçou que os casos de uso problemático das tecnologias não são tão recorrentes quanto é possível imaginar. “Essa prevalência é de 1% a 3% e esses dados são até 2020, antes da pandemia. Mesmo ainda sem dados concretos, já podemos entender que esses valores aumentaram um pouco durante os anos de 2020 e 2021”, afirmou.
O profissional ainda deu dicas de como entender os usos de tecnologia de forma saudável pelos filhos. “O que já entendemos e sabemos é que as famílias que conversam mais sobre o uso de tecnologia, tem problemas menores sobre isso. Não vai resolver a proibição total, então é preciso trabalhar com o uso equilibrado. Sabemos que essa intensidade aumenta na adolescência, mas esse cuidado precisa começar na infância ainda, envolvendo os alunos no planejamento das atividades”, finalizou.
Dados apresentados pelo Psiquiatra da Infância e Adolescência e coordenador do Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas (GEAT), Daniel Spritzer:
– 96% dos usuários de internet de 9 a 17 anos acessaram a internet todos os dias ou quase todos os dias;
– Os principais locais de acesso à internet são a casa/residência da criança/adolecente e a casa/residência de outra pessoa;
– Atividades mais realizadas pelas crianças e adolescentes na internet em 2022: 87% ouviu música online; 82% assistiu a vídeos, programas, filmes ou séries online; 80% pesquisou na internet para fazer trabalhos escolares; 79% enviou mensagens instantâneas.
– 86% dos usuários possuem perfil em alguma rede social.
Quais são os riscos?
O segundo momento do evento contou com a palestra de Luciano Escobar, Especialista em Direito Educacional e Advogado do Colégio Farroupilha. O profissional salientou o aumento da vivência com tecnologia por adultos e crianças nos últimos anos. “Se nós percebemos que estamos cada vez mais dependentes de tecnologia, imagina as crianças e adolescentes que ficaram praticamente dois anos com aulas on-line”, destacou.
Luciano Escobar palestrou sobre segurança digital e os perigos das redes sociais, que podem estar em todos os espaços, inclusive nos jogos on-line. “Eu sempre digo que ser pai e mãe não é uma atitude passiva. Não vemos nossos filhos e filhas crescerem sem nenhuma ação. Ao contrário disso, nos envolvemos em tudo que acontece no dia a dia deles. Assim como orientamos sobre os cuidados de sair na rua, andar de skate, por exemplo, temos que orientar para o uso da tecnologia”, lembrou.
O advogado mostrou a classificação de riscos da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico quanto aos usos de crianças e adolescentes de tecnologias. “Risco de conteúdo, conduta, contato e consumo, sendo o de conteúdo desmembrado em conteúdo de ódio, conteúdo nocivo, conteúdo ilegal e desinformação”, explicou.
Segundo o especialista, o risco de conduta ocorre quando uma criança ou adolescente participa ou é vítima de uma conduta potencialmente danosa entre pares, como sexting e cyberbullying. “O risco de contato acontece quando elas interagem no ambiente digital e são expostas a encontros com a intenção de prejudicá-las, como nas ameaças de expor conteúdos íntimos”, afirmou.
Já nos riscos de consumo, as crianças e adolescentes, dependendo da sua idade, maturidade e circunstâncias, podem ser mais suscetíveis a práticas de mercado enganosas ou fraudulentas. “O que fica mais fácil de ocorrer no ambiente digital, com a análise dos seus dados pessoais coletados”, finalizou.
Dados apresentados pelo Especialista em Direito Educacional e Advogado do Colégio Farroupilha, Luciano Escobar:
TikTok ultrapassou a marca de 1 bilhão de usuários, o que representa 15% da população mundial e o Brasil é o segundo país com mais usuários nesta rede social, ficando atrás apenas da China. Os brasileiros passam, em média, 5h50 por dia on-line nesta rede. Dentre os brasileiros, 46% dos menores de idade entre 10 e 17 anos possuem conta.